sábado, 5 de maio de 2012

Geodiversidade

A geoconservação é a parte que falta na conservação da natureza
Sharples, 2002


1. Geodiversidade


Nos anos 80 do século passado, Kevin Kiernan utilizou expressões, tais como landform diversity e geomorphic diversity, que se aproximam do termo geodiversidade. Contudo, pensa-se que começou a ser utilizado por investigadores australianos, comparativamente ao termo biodiversidade (já tratado neste Blog), em estudos efetuados na área da conservação geológica e geomorfológica, na Tasmânia, nomeadamente por Sharples (1993), Kiernan (1994, 1996, 1997a) e Dixon (1995, 1996a,b). O termo foi evoluindo, desde diversity of earth features and systems de Sharples (1993); passando por It is the link between people, landscapes and culture; it is the variety of geological environments, phenomena and processes that make those landscapes, rocks, minerals, fossils and soils which provide the framework for life on Earth, de Sharples (2002a); para the range or diversity of geological (bedrock), geomorphological (landform) and soil features, assemblages, systems and processes, da Australian Heritage Comission (2002); passando ainda por the complex variation of bedrock, unconsolidated deposits, landforms and processes that form landscapes … Geodiversity can be described as the diversity of geological and geomorphological phenomena in a defined area, do Nordic Council of Ministers (2003); e também por the variety of rocks, fossils, minerals, natural processes, landforms and soils that underlie and determine the character of our landscape and environmente, de Stace & Larwood (2006); até à definição atualmente mais aceite the variety of rocks, fossils, minerals, landforms, soils and natural processes that support biodiversity and determine the character of our natural landscape and environment, do British Institute for Geological Conservation.
Assim, a geodiversidade é definida pela diversidade de rochas, fósseis, minerais, relevos, solos e processos naturais que sustentam a biodiversidade e determinam as caraterísticas da paisagem natural e do ambiente. Stanley, em 2002, afirma que a biodiversidade faz parte da geodiversidade. 


2. Exemplos da geodiversidade


Minerais
Rochas
Estratos sedimentares
Solos
Falhas e dobras
Fósseis
Estalagmites e estalactites
Glaciares
Formas
Processos geológicos e geomorfológicos
Paisagens
Arribas


3. Valores da Geodiversidade - exemplos


3.1. Valore intrínseco  - valor independente do homem
3.2. Valor cultural - nomes de locais, construção tradicional, mitos e lendas, atividades tradicionais
  3.3. Valor estético . trabalhos artísticos, lazer
3.4. Valor económico  - recursos minerais, aproveitamento geotérmico
3.5. Valor funcional  - in situ, suporte para sistemas físicos e ecológicos
3.6. Valor científico e educacional  - explicação científica, centros de interpretação


4. Ameaças à geodiversidade - exemplos


Minas e pedreiras
Urbanização – expansão urbana, infraestruturas, gestão dos rios, erosão costeira
Florestação, desflorestação e agricultura
Atividades militares
Atividades recreativas e turísticas
Recolha de exemplares
Iliteracia cultural
5. Proteção


Valores + Ameças = Proteção


5.1. Geoconservação

A geoconservação tem como objetivo a preservação da diversidade natural (ou geodiversidade) de significativos aspetos e processos geológicos (substrato), geomorfológicos (formas de paisagem) e de solo, mantendo a evolução natural (velocidade e intensidade) desses aspetos e processos (Sharples, 2002).   A geoconservação contribui para uma abordagem holística da conservação da natureza, oferece novas ferramentas para o uso sustentável dos recursos naturais e combina quatro conceitos fundamentais: avaliação da geodiversidade (geossítios, património geológico), geoeducação, geoturismo e geoparques (Andrăşanu, 2012)


5.2. Geossítio e geomonumento

O geossítio ou geótopo é uma ocorrência de pelo menos um elemento da geodiversidade com elevado valor científico, educacional, cultural ou turístico, com um limite bem definido e que foi surgindo o interesse pela sua proteção. Nos casos em que a importância do geossítio é excecional, atribui-se a designação de geomonumentos.


5.3. Património geológico
O património geológico é o conjunto de geossítios de uma determinada área.


5.4. Geoturismo
O geoturismo é parte da atividade ecoturística que se baseia na geodiversidade, nomeadamente visitas a locais de interesse geológico e geomorfológico.


5.5. Geoparque

O geoparque é uma área classificada, com limites bem definidos e suficientemente grande que permita a conjugação da geoconservação com o desenvolvimento sustentável (UNESCO, in Brilha, 2005). Deverá contar com geossítios associados a valores científicos, arqueológicos, ecológicos, históricos, culturais (Brilha, 2005). Um geoparque é um diálogo entre o Homem e a Terra (Andrăşanu, 2012).


6. Arouca Geopark - Um exemplo português de um geoparque


6.1. Geologia de Portugal continental

Portugal, mesmo sendo um país pequeno, apresenta uma enorme geodiversidade.
A caracterização geológica do território de Portugal continental é constituída a nível cronológico e da estrutura dos terrenos por três unidades fundamentais:



  • O Maciço Antigo ou Hespérico, formado por rochas magmáticas, nomeadamente granitos, e por rochas metassedimentares, do Pré-câmbrico Superior ao Carbónico, que foram profundamente afetadas pela Orogenia Hercínica;

  • A Orla Mesocenozóica Ocidental ou Lusitana e a Orla Meridional ou Algarvia, com depósitos sedimentares de calcários, margas e arenitos, provenientes de ambientes marinhos de plataforma e fluviais;

  • As Bacia Cenozóicas do Tejo e do Sado de fácies marinhas e continentais.
Podemos ainda considerar mais dois conjuntos importantes:

  • As três intrusões magmáticas, Sintra, Sines e Monchique, e a atividade vulcânica subaérea na zona de Lisboa do final do Cretácico;

  • As formações dunares móveis e consolidadas, bem como terraços marinhos e fluviais, aluviões e areias de praia do Quaternário. 

Relativamente à diversidade geológica em Portugal, vale a pena ver o seguinte documentário:




6.2. Património geológico de Arouca


Mapa de geossítios




A região de Arouca reúne um conjunto de ocorrências geológicas que devido à sua importância e singularidade, contribuíram para a criação do geoparque, nomeadamente:

  • As “Pedras parideiras” - afloramento de nódulos de biotite em rochas graníticas;


  • Trilobites de dimensões extraordinárias - fósseis de invertebrados do Ordovícico Médio de Canelas;


  • Mineralizações de ouro, antimónio, estanho e tungsténio – exploradas, em alguns casos, desde a época de ocupação romana da Península Ibérica;


  • Frecha da Mizarela associada a um contacto granito/xisto – uma das maiores quedas de água da Europa, com elevado valor estético;


  • Paisagens de elevado valor estético - miradouros dispersos, onde se observam diversos aspetos geomorfológicos de grande interesse;


  • Rápidos do rio Paiva - utilizados pelas empresas de desporto aventura, contribuindo para o geoturismo e ecoturismo; 


  • Solos férteis - resultantes da meteorização e erosão das montanhas envolventes, que são responsáveis pela riqueza agrícola que caracteriza a região.

Para conhecer melhor toda a área do geoparque ver o endereço eletrónico oficial em:
http://www.geoparquearouca.com/?p=home

E o seguinte vídeo:


Como informação final, terá lugar no Arouca Geopark, entre 19 a 21 de setembro deste ano, a 11ª conferência de geoparques europeus. Mais informações em: 
http://www.2012egnconference.com/





Bibliografia 




Andrăşanu, A. 2012. Geoconservation Geoparks. Conferência em Sinaia. University of Bucharest, Romania.


Arouca Geopark. [consulta em 4 de maio de 2012 no endereço: http://www.geoparquearouca.com/?p=home]


Brilha, J. 2005. Património Geológico e Geoconservação – A Conservação da Natureza na sua Vertente Geológica. Palimage. Imagem Palavra. Braga.


Brilha, J. 2012. Geodiversity, geoconservation and sustainable development. Conferência em Sinaia. Earth Sciences Department University of Minho. Braga. Portugal.


Gray, M. 2004. Geodiversity. Chichester: John Wiley & Sons Ltd.


Ramalho. M. 2004. Património Geológico Português – importância científica, pedagógica e sócio-económica. Geonovas nº 18, pp. 5 a 12. Associação portuguesa de geólogos.


Sharples, C. 1993. A Methodology for the Identification of Significant Landforms and Geological Sites for Geoconservation Purposes. Report to Forestry Commission, Tasmania.


Sharples, C. 2002. Concepts and Principles of Geoconservation. Tasmanian Parks & Wildlife Service website.



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