quarta-feira, 18 de abril de 2012

Ameaças à biodiversidade

I. A Biodiversidade

O Artigo 2 da Convention on Biological Diversity define a diversidade biológica como a variedade de organismos vivos de todas as origens, incluindo, inter alia, os ecossistemas terrestres, marinhos e outros ecossistemas aquáticos e os complexos ecológicos dos quais fazem parte; compreende a diversidade dentro de espécies, entre espécies e de ecossistemas. Esta definição é uma das muitas que podemos encontrar sobre a biodiversidade. Contudo, ela não engloba a totalidade da hierarquia da vida representada no esquema seguinte, centrando-se no organismo, nas espécies e nos ecossistemas. Dificilmente se encontra uma definição que englobe todos os aspetos da vida. Contudo, quando se fala de biodiversidade, ela deve ter em conta toda a hierarquia.


Esquema adaptado de D.M. Ruști in Monitoring Biodiversity, 2012

II. Ameaças à Biodiveridade

A biodiversidade pode ser ainda uma referência à crescente preocupação sobre a redução da diversidade da vida e a sua conservação (Bowman, 1993). A história mostra extinções em massa provocadas por catástrofes naturais que afetaram substancialmente a biodiversidade. Contudo, a diversidade da vida soube tomar novas formas, em direção à complexidade, à funcionalidade e à beleza.

Nas últimas décadas, tem-se verificado uma nova ameaça à biodiversidade, que difere das anteriores, porque as causas deixaram de ser naturais.
Atualmente a maior ameaça à biodiversidade vem dos promotores de alterações de origem antropogénica, especialmente as alterações induzidas diretamente, como alteração de habitats, sobre-exploração, trocas bióticas, saturação de nutrientes (MEA, 2005), resultante das as atividades nas áreas da pecuária, da indústria, da energia, dos transportes, da agricultura, das pescas e da construção civil, que provocam degradação ambiental, com a poluição do ar, solos e água, a destruição e fragmentação de habitats, a desertificação e erosão do solo, a alteração dos cursos de água (rios), destruição de corais e fundos marinhos, a introdução de espécies exóticas, a sobre-exploração de algumas espécies, o esgotamento dos recursos naturais, os fogos florestais, as alterações climáticas, as chuvas ácidas, a destruição da camada de ozono, etc.

Estes fatores relacionam-se também com os promotores indiretos, nomeadamente os fatores económicos, demográficos sociopolíticos, culturais e religiosos e científicos e tecnológicos (MEA, 2005) através da globalização, do aumento da população e das atividades económicas e tecnológicas que exercem enorme pressão sobre os ecossistemas e a biodiversidade. Dentro dos aspetos culturais há que ter em conta as questões éticas - a maneira como o homem vê a trata as outras espécies e a natureza. Existe uma visão e uma atitude muito antropocêntrica e até de especismo da população humana, que contribui para o domínio e a desvalorização das outras espécies, que também contribui para a perda da diversidade da vida.

Na realidade, quase todos os ecossistemas da Terra têm sido afetados pelas ações humanas, traduzindo-se numa diminuição da biodiversidade, e os indicadores apontam para um cenário cada vez mais grave (MEA, 2005). Mesmo que parássemos imediatamente a degradação ambiental, o impacte antropogénico realizado até ao momento persistiria por décadas, eliminando um grande número de espécies (Myers, 1990 in Mayers, 1996). Uma das apostas para diminuir o problema tem sido a criação de vastas áreas protegidas, como parques e reservas naturais. Contudo, esta medida não chega para combater este flagelo, porque mesmo com estas reservas, prevê-se o desaparecimento de 66% das espécies de plantas e 69% das espécies de pássaros e das maiores categorias de animais (Mayers, 1996). É o caso de muitas das espécies endémicas, que desaparecerão com a destruição ou degradação dos seus habitats naturais.

A diminuição da biodiversidade, para além de ser um grave problema ambiental acarreta problemas económicos e sociais, que se traduzem em conflitos, fome, doença, desemprego, escassez de matéria-prima, fenómenos climáticos extremos e desertificação. O valor da biodiversidade é enorme para a Terra e para o Homem e já foi tratado no post anterior. É urgente tomar medidas mais eficazes para suster a perda da biodiversidade de origem antropogénica. A educação poderá contribuir para a mudança de comportamentos e um futuro mais sustentável, a par da utilização de tecnologias mais eco-eficientes, legislação amiga do ambiente e uso sustentável dos recursos naturais.




Referências:


Azeiteiro, U., 2009. Biodiversidade e Serviços do Ecossistema. Estudo e Conservação da Biodiversidade. Texto de Apoio – UT1. DCeT. Universidade Aberta.

Bowman, D.M.J.S., 1993. Biodiversity: much more than biological inventory. Biodiversity Letters 1: 163.

Convention on Biological Diversity. Article 2. Use Terms [Consultado em 19 de Abril de 2012 no endereço: http://www.cbd.int/convention/articles/?a=cbd-02].

Millennium Ecosystem Assessment (2005) "Causes of Biodiversity change", pp. 8-10.

Millennium Ecosystem Assessment (2005) "What are the current trends and drivers of biodiversity change and their trends", pp. 42-59.

Myers, N. (1996) “The rich diversity of biodiversity issues” pp. 125-138. In M. Reaka-Kudla, D.E. Wilson, & E.O. Wilson (eds.) Biodiversity II: understanding and protecting our biological resources, Joseph Henry Press, Washington, D.C. (disponível neste tópico).

Ruști, R. (2012) “Monitoring Biodiversity”, Sinaia, Roménia.