segunda-feira, 21 de maio de 2012

Ameaças à Geodiversidade




We will only conserve what we love.
We will only love what we understand.
And we will only understand what we are taught

Baba Dioum, conservacionista africano 


Existem várias ameaças à geodiversidade, que são consideradas maioritariamente de origem antropogénica. Contudo, nem todos os processos relacionados com a erosão e as mudanças climáticas, potenciais ameaças à geodiversidade, são consequência das atividades humanas. Alguns desses processos resultam das dinâmicas da natureza da Terra, que se relacionam entre si, nomeadamente nas relações inter e intra-ecossistemas, das atividades sísmica e vulcânica e dos fenómenos climáticos extremos. As ameaças de origem antropogénica podem ser diretas e indiretas. As primeiras consideram a perda total, parcial ou dano físico de um elemento de geodiversidade ou do seu acesso, visibilidade e intervisibilidade, ou ainda, da fragmentação do interesse, impacto visual, poluição e interrupção do processo natural. Estas ameaças advêm da extração mineira, da deposição de resíduos, da alteração do uso dos solos, do desenvolvimento e expansão urbana, da proteção costeira, das atividades agrícola e turística, da desflorestação e florestação, do crescimento desmedido da vegetação, do enterro e depósito ilegal, do vandalismo e grafitis e da recolha de espécimenes (fosseis, minerais e rochas para coleção e venda). As ameaças antropogénicas indiretas incluem a demografia humana, a erosão e as alterações climáticas e nível oceânico, originárias da alteração dos ecossistemas e uso dos solos, da emissão de gases com efeito de estufa e poluentes e da urbanização junto a locais de interesse. Há ainda a considerar a iliteracia cultural como ameaça antropogénica indireta, porque é possível danificar ou destruir um elemento da geodiversidade, por desconhecer os seus diversos valores: intrínseco, estético, cultural, económico, científico, educacional, espiritual e funcional.



Subsiste ainda um défice global relativamente à educação formal sobre a geodiversidade e sua preservação. Esse défice existe também dentro da comunidade ecologista, que se preocupa mais com a manutenção de espécies isoladas ou com a biodiversidade, do que com os elementos da geodiversidade, esquecendo-se de incluir ações de proteção destes, tão importantes para a manutenção dos ecossistemas.


O desenvolvimento e a expansão urbana, com a constante construção de edifícios, infraestruturas e permeabilização dos solos, descaraterizam paisagens, ocultam locais de interesse, destroem solos, aumentam a erosão, alteram cursos de água, etc. Um desenvolvimento urbano sustentável deve respeitar as características e as formas naturais do local.


A agricultura intensiva e industrial também altera os solos e as paisagens. A maquinaria agrícola modifica a ecologia e a permeabilidade dos solos, contribuindo para processos erosivos tanto do solo como de outros elementos da geodiversidade. A utilização de pesticidas e fertilizantes contaminam as estruturas geológicas com poluentes químicos.


A construção de diques de defesa e de dunas de estabilização junto à costa podem danificar a geodiversidade, porque destroem os processos naturais existentes e a evolução dos sistemas costeiros. As barragens nos rios descaraterizam a paisagem e alteram o uso do solo e o fluxo de sedimentos.


A atividade mineira e a extração de materiais para construção e infraestruturas, provocam um enorme impacte na geodiversidade. Paisagens alteradas, solos removidos e rochas despedaçadas. O problema agrava-se quando os solos são raros, as paisagens belíssimas, os stocks do tipo de rocha limitados e onde existem magníficos e raros espécimes de minerais e fósseis. Paralelamente a atividade mineira é altamente poluente dos solos e paisagens, provenientes das atividades e do depósito de material rejeitado.


As árvores são importantes na conservação natural do solo, porque previnem a erosão. Todavia, a reflorestação e a florestação com crescimento descontrolado podem ocultar a visibilidade e o acesso aos elementos da geodiversidade. As raízes são uma ameaça às estruturas geológicas sensíveis e a plantação de algumas espécies, como as coníferas, podem acidificar os solos. A desflorestação aumenta a erosão do solo, danificando elementos e paisagens.


Muitas das atividades turísticas provocam impactes significativos à geodiversidade. O pisoteio causado pela passagem de pessoas causa compactação do solo e elimina a vegetação. Relativamente a este problema é necessário ter em consideração a capacidade de carga do local. O uso de veículos automóveis motorizados de todo-o-terreno pode levar à erosão e à instabilidade de taludes e escarpas e à destruição de dunas e outros elementos da geodiversidade. Os desportos de inverno de montanha, nomeadamente o esqui, alteram partes da morfologia local e provocam impactes significativos nos solos e sedimentos. Os turistas gostam também de colher exemplares da geodiversidade, partindo estalactites e rochas com minerais e fósseis visíveis. Muitas vezes, a demanda de é tal ordem que desaparece por completo qualquer vestígio do elemento da geodiversidade que caraterizava a importância do local.


As ameaças à geodiversidade podem deixar de o ser e tornarem-se uma realidade que destrói a integridade dos elementos da geodiversidade, que levaram milhões de anos a formarem-se, destruírem depósitos geológicos finitos e a informação paleoambiental contida, bem como contaminarem e danificarem solos e aquíferos.

Bibliografia:

Brilha, J. 2005. Património Geológico e Geoconservação – A Conservação da Natureza na sua Vertente Geológica. Palimage. Imagem Palavra. Braga.

Brilha, J. 2012. Geodiversity, geoconservation and sustainable development. Conferência em Sinaia. Earth Sciences Department University of Minho. Braga. Portugal.


Gray, M., 2004. Geodiversity - valuing and conserving abiotic nature. John Wiley & Sons,
Ltd.

Gray, M., Jungerius, P.D., van den Ancker, J.A.M., Brilha, J., Bewnnet, M., Hooke, J., Koster, E.W., Nieto, L., Poesen, J., Tofason, H., 2004. European Union Solil Thematic Strategy Geodiversity and Geoheritage as features of Soil Protetion. Advice to the Working Groups Towards a Thematic Strategy for Soil Protection. (COM (2002) 179 C5-0328/2002 2002/2172(COS)). Committee on the Environment, Public Health and Consumer Policy

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