We will only
conserve what we love.
We will only
love what we understand.
And we will
only understand what we are taught
Baba Dioum, conservacionista africano
Existem várias ameaças à
geodiversidade, que são consideradas maioritariamente de origem antropogénica. Contudo,
nem todos os processos relacionados com a erosão e as mudanças climáticas,
potenciais ameaças à geodiversidade, são consequência das atividades humanas. Alguns
desses processos resultam das dinâmicas da natureza da Terra, que se relacionam
entre si, nomeadamente nas relações inter e intra-ecossistemas, das atividades
sísmica e vulcânica e dos fenómenos climáticos extremos. As ameaças de origem
antropogénica podem ser diretas e indiretas. As primeiras consideram a perda total,
parcial ou dano físico de um elemento de geodiversidade ou do seu acesso,
visibilidade e intervisibilidade, ou ainda, da fragmentação do interesse, impacto
visual, poluição e interrupção do processo natural. Estas ameaças advêm da
extração mineira, da deposição de resíduos, da alteração do uso dos solos, do
desenvolvimento e expansão urbana, da proteção costeira, das atividades
agrícola e turística, da desflorestação e florestação, do crescimento desmedido
da vegetação, do enterro e depósito ilegal, do vandalismo e grafitis e da
recolha de espécimenes (fosseis, minerais e rochas para coleção e venda). As
ameaças antropogénicas indiretas incluem a demografia humana, a erosão e as
alterações climáticas e nível oceânico, originárias da alteração dos
ecossistemas e uso dos solos, da emissão de gases com efeito de estufa e
poluentes e da urbanização junto a locais de interesse. Há ainda a considerar a
iliteracia cultural como ameaça antropogénica indireta, porque é possível
danificar ou destruir um elemento da geodiversidade, por desconhecer os seus
diversos valores: intrínseco, estético, cultural, económico, científico,
educacional, espiritual e funcional.
Subsiste ainda um défice global
relativamente à educação formal sobre a geodiversidade e sua preservação. Esse
défice existe também dentro da comunidade ecologista, que se preocupa mais com
a manutenção de espécies isoladas ou com a biodiversidade, do que com os
elementos da geodiversidade, esquecendo-se de incluir ações de proteção destes,
tão importantes para a manutenção dos ecossistemas.
O desenvolvimento e a expansão
urbana, com a constante construção de edifícios, infraestruturas e
permeabilização dos solos, descaraterizam paisagens, ocultam locais de
interesse, destroem solos, aumentam a erosão, alteram cursos de água, etc. Um
desenvolvimento urbano sustentável deve respeitar as características e as
formas naturais do local.
A agricultura intensiva e
industrial também altera os solos e as paisagens. A maquinaria agrícola modifica
a ecologia e a permeabilidade dos solos, contribuindo para processos erosivos
tanto do solo como de outros elementos da geodiversidade. A utilização de
pesticidas e fertilizantes contaminam as estruturas geológicas com poluentes
químicos.
A construção de diques de defesa
e de dunas de estabilização junto à costa podem danificar a geodiversidade,
porque destroem os processos naturais existentes e a evolução dos sistemas
costeiros. As barragens nos rios descaraterizam a paisagem e alteram o uso do
solo e o fluxo de sedimentos.
A atividade mineira e a extração
de materiais para construção e infraestruturas, provocam um enorme impacte na
geodiversidade. Paisagens alteradas, solos removidos e rochas despedaçadas. O
problema agrava-se quando os solos são raros, as paisagens belíssimas, os
stocks do tipo de rocha limitados e onde existem magníficos e raros espécimes
de minerais e fósseis. Paralelamente a atividade mineira é altamente poluente
dos solos e paisagens, provenientes das atividades e do depósito de material
rejeitado.
As árvores são importantes na
conservação natural do solo, porque previnem a erosão. Todavia, a reflorestação
e a florestação com crescimento descontrolado podem ocultar a visibilidade e o
acesso aos elementos da geodiversidade. As raízes são uma ameaça às estruturas
geológicas sensíveis e a plantação de algumas espécies, como as coníferas,
podem acidificar os solos. A desflorestação aumenta a erosão do solo,
danificando elementos e paisagens.
Muitas das atividades turísticas
provocam impactes significativos à geodiversidade. O pisoteio causado pela passagem
de pessoas causa compactação do solo e elimina a vegetação. Relativamente a este
problema é necessário ter em consideração a capacidade de carga do local. O uso
de veículos automóveis motorizados de todo-o-terreno pode levar à erosão e à
instabilidade de taludes e escarpas e à destruição de dunas e outros elementos
da geodiversidade. Os desportos de inverno de montanha, nomeadamente o esqui,
alteram partes da morfologia local e provocam impactes significativos nos solos
e sedimentos.
Os
turistas gostam também de colher exemplares da geodiversidade, partindo
estalactites e rochas com minerais e fósseis visíveis. Muitas vezes, a demanda
de é tal ordem que desaparece por completo qualquer vestígio do elemento da
geodiversidade que caraterizava a importância do local.
As ameaças à geodiversidade podem
deixar de o ser e tornarem-se uma realidade que destrói a integridade dos
elementos da geodiversidade, que levaram milhões de anos a formarem-se, destruírem
depósitos geológicos finitos e a informação paleoambiental contida, bem como
contaminarem e danificarem solos e aquíferos.
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