Geoconservation is giving “life” to rocks,
is telling stories about our
planet to make people to understand and love them.
Alexandru Andrăşanu, Sinaia,
2012
Portas de Ródão - Passage of the Tagus at Villa-Velha (Westall, 1823)
Mutos locais com interesse geológico
foram destruídos, ocultados ou irreversivelmente danificados, devido à
alteração do uso da terra para a urbanização e a agricultura. Muitos desses
locais poderiam ter sido preservados, se anteriormente tivesse existido uma inventariação
que denunciasse a sua importância.
A geoconservação surge como uma
necessidade de conservar e gerir o patrimônio geológico e os processos naturais
associados. “Tem o objetivo de preservar a diversidade natural (geodiversidade)
de significativos aspetos e processos geológicos (substratos), geomorfológicos
(formas da paisagem) e do solo, mantendo a evolução natural (velocidade e
intensidade) desses aspetos e processos” Brilha, 20015). A geoconservação
contribui para uma abordagem holística da conservação da natureza e oferece
novas ferramentas no uso sustentável dos recursos naturais, contribuindo para
os objetivos da Agenda 21 (Andrăşanu,
2012). A geoconservação combina quatro conceitos: avaliação da geodiversidade (geossítios,
património geológico, etc.), geoeducação, geoturismo e geoparques.
Desde a década 70 do século
passado que apareceram vários organismos interessados na conservação do
património geológico. Porém, aponta-se as primeiras referências e
desenvolvimento de estratégias de geoconservação, à região da Tasmânia, na
Austrália, a partir da elaboração de um documento intitulado “Estratégias de
Geoconservação da Natureza”. O conceito esteve até 1991 geralmente subordinado a
outras atividades de conservação da natureza. A partir desse ano foram
desenvolvidos diversos conceitos e métodos de geoconservação (Andrăşanu, 2012), com contribuição das
seguintes organizações, eventos e legislação: ProGEO/WG; Digne Declaration – Declaração
Internacional dos Direitos à Memória da Terra, 1991; Rio Conference, 1992; criação
e desenvolvimento do European Network Geoparks, 1997-2000; criação do Global
Geoparks Network, 2000-2004; CE Recommendation 3/2004 (Geological heritage);
IUCN (Almeria, 2007). É de salientar que a partir de 2000, os conceitos geoconservação
e geoparques foram globalizados e a Declaração Internacional dos Direitos à
Memória da Terra é um excelente instrumento para a geoconservação.
Transcreve-se a seguir o seu conteúdo:
Declaração Internacional
dos Direitos à Memória da Terra
(Digne, Fr., 1991 –1º
Simpósio Internacional sobre Protecção do Património Geológico)
1 - Assim como cada vida humana é considerada
única, chegou a altura de reconhecer, também, o carácter único da Terra.
2 - É a
Terra que nos suporta. Estamos todos ligados à Terra e ela é a ligação entre
nós todos.
3 - A
Terra, com 4500 milhões de anos de idade, é o berço da vida, da renovação e das
metamorfoses dos seres vivos. A sua larga evolução, a sua lenta maturação,
deram forma ao ambiente em que vivemos.
4 - A
nossa história e a história da Terra estão intimamente ligadas. As suas origens
são as nossas origens. A sua história é a nossa história e o seu futuro será o
nosso futuro.
5 - A
face da Terra, a sua forma, são o nosso ambiente. Este ambiente é diferente do
de ontem e será diferente do de amanhã. Não somos mais que um dos momentos da
Terra; não somos finalidade, mas sim passagem.
6 -
Assim como uma árvore guarda a memória do seu crescimento e da sua vida no seu
tronco, também a Terra conserva a memória do seu passado, registada em
profundidade ou a superfície, nas rochas, nos fósseis e nas paisagens, registo
esse que pode ser lido e traduzido.
7 - Os
homens sempre tiveram a preocupação em proteger o memorial do seu passado, ou
seja, o seu património cultural. Só há pouco tempo se começou a proteger o
ambiente imediato, o nosso património natural. O passado da Terra não é menos
importante que o passado dos seres humanos. Chegou o tempo de aprendermos a
protegê-lo e protegendo-o aprenderemos a conhecer o passado da Terra, esse
livro escrito antes do nosso advento e que é o património geológico.
8 - Nós
e a Terra compartilhamos uma herança comum. Cada homem, cada governo não é mais
do que o depositário desse património. Cada um de nós deve compreender que
qualquer depredação é uma mutilação, uma destruição, uma perda irremediável.
Todas as formas do desenvolvimento devem, assim, ter em conta o valor e a
singularidade desse património.
9 - Os
participantes do 1.° Simpósio Internacional sobre a Proteção do Património
Geológico, que incluiu mais de uma centena de especialistas de 30 países
diferentes, pedem a todas as autoridades nacionais e internacionais que tenham
em consideração e que protejam o património geológico, através de todas as
necessárias medidas legais, financeiras e organizacionais.
(Tradução de Professor Doutor Miguel M.
Ramalho)
Portugal tem vindo a inventariar
o seu riquíssimo patrimônio geológico, com o levantamento e classificação de
elementos da geodiversidade, quer a nível isolado, quer inseridos em
geoparques. Atualmente o país já conta com três geoparques - Naturtejo da
Meseta Meridional, Arouca Geopark e Açores e encontram-se dois a preparar
candidatura – em Macedo de Cavaleiros e Porto Santo na Madeira. Ainda longe do
desejável, Portugal apresenta algumas iniciativas educativas em relação à
geoconservação, que estão inseridas em projetos de educação ambiental não-formal,
dentro das atividades dos geoparques ou no programa “Geologia no Verão”, sob responsabilidade
da Ciência Viva, da Agência Nacional para Cultura Científica e Tecnológica. Outra
iniciativa interessante para o caso é o curso de Mestrado em Patrimônio
Geológico e Geoconservação, criado em 2005, pela Universidade do Minho, e que
conta como objetivos: contribuir para o incremento da educação para a
sustentabilidade, através do reforço das competências de docentes dos ensinos
básico e secundário das áreas das Ciências Naturais e da Geografia; permitir a
troca de experiências de ações concretas de Geoconservação em desenvolvimento
em áreas protegidas nacionais e estrangeiras; possibilitar o desenvolvimento de
trabalhos de investigação e de projeto no âmbito da Geoconservação que
contribuam para o melhor conhecimento do património geológico e que tenham um
real impacto na gestão de áreas com interesse patrimonial, etc.
As estratégias de geoconservação de
um geossítio incluem uma série de procedimentos, resumidos no seguinte esquema:
A inventariação dos geossítios
passa pelo levantamento sistemático da área, para identificar os diversos tipos
de ocorrência presentes, que inclui a tipologia dos elementos da geodiversidade
a inventariar, a sua localização geográfica, o registo fotográfico e a
caracterização através do preenchimento da ficha de campo respetiva. Serão
tidos em conta os critérios intrínsecos do geossítio, os critérios relacionados
com o uso potencial do geossítio e os critérios relacionados com a necessidade
de proteção do geossítio, quantificados com base numa escala crescente de 1 a 5.
Os primeiros contam a abundância/raridade, extensão, grau de conhecimento
científico, utilidade como modelo para ilustração de processos geológicos, diversidade
de elementos de interesse, local-tipo, associação com elementos de índole
cultural, associação com outros elementos do meio natural e estado de
conservação. Os segundos fazem uma análise sobre as potencialidades de
realização de atividades científicas, pedagógicas, turísticas e recreativas; as
condições de observação, acessibilidade e colheita de elementos geológicos; a
proximidade de povoações, número de habitantes e condições socioeconómicas. Os critérios
relacionados com a proteção do elemento consideram a situação atual,
fragilidade, as ameaças atuais ou potenciais, o regime de propriedade, o valor
dos terrenos e o interesse para a exploração mineira.
Os processos de classificação
terão de estar em sintonia com a legislação existente e as propostas poderão
estar inseridas em âmbitos nacional, regional, local e municipal. Pode
consultar a legislação referente a estes processos em:
A conservação de geossítios
deverá ser orientada para manter a integridade física do geossítio e
paralelamente assegurar acessibilidade ao público.
A valorização e a divulgação do
património geológico realiza-se com um conjunto das ações de informação e
interpretação que vão ajudar o público a reconhecer o valor dos geossítios, em
conjunto com o restante património natural e cultural, nomeadamente centros de
interpretação, percursos e roteiros turísticos, painéis interpretativos,
folhetos, Internet, etc.
A monitorização visa estudar a
capacidade de carga do local, definir ações de manutenção e criar de
estratégias para quantificar a perda da sua relevância ao longo do tempo.
O documentário que se segue
retrata bem o conjunto de aspetos geológicos, geomorfológicos e culturais
de um geoparque. Neste caso trata-se do geoparque Naturtejo da Meseta
Meridional:
Bibliografia:
Agência Nacional para a Cultura científica de Tecnológica. Ciência
Viva [consultado em 21 de Maio de 2012 no endereço: http://www.cienciaviva.pt/home/]
Andrăşanu, A. 2012. Geoconservation Geoparks. Conferência em Sinaia.
University of Bucharest, Romania.
Brilha, J. 2005. Património Geológico e Geoconservação – A Conservação da Natureza na sua Vertente Geológica. Palimage. Imagem Palavra. Braga.
Brilha, J. 2010. Enquadramento Legal de Suporte à Proteção do Património Geológico em Portugal. Ciências Geológicas – Ensino e Investigação e sua História. Volume II, Cap. IV – Geologia e Património Natural (Geodiversidade).
Brilha, J. 2012. Geodiversity, geoconservation and sustainable development. Conferência em Sinaia. Earth Sciences Department University of Minho. Braga. Portugal.
Cunha, L. Estratégias de geoconservação [Consultado
em 21 de Maio de 2012 no endereço: https://woc.uc.pt/fluc/getFile.do?tipo=2&id=7572]
Geoconservation.com [consultado em 21 de Maio de 2012 no endereço:
Universidade do Minho. Mestrado em Património Geológico e
Geoconservação [consultado em 21 de Maio de 2012 no endereço: http://www.dct.uminho.pt/mest/pgg/index_pgg.html]
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